junho 19, 2006

Brasil, melodias de sempre

1. Eu tenho um preconceito contra Mário Zagallo e devo confessá-lo. Em 1997, na preparação para o Mundial de França, o escrete jogava no Maracanã e eu fui ver. Sob pressão da multidão, Zagallo, a meio, mandou sair Raí, que eu sempre considerei um modelo de elegância, mestre do passe, para entrar Edmundo, “o Animal”. A turba apoiou, festejou, e queimou Raí. Zagallo sempre me pareceu aquele maestro das “Melodias de Sempre”, com uma orquestra cheia de músicos excelentes, agarrado ao crucifixo e incapaz de ousadia. E foi sempre assim. Só de ver Zagallo no banco dá arrepios. Foi ele que disse que Deco não tinha grande valor e que, como ele, tinham aos milhares. Zagallo é o mestre do ressentimento em futebol, cheio de “vai com Deus” e de “Deus está connosco”. Depois de tirarem Ronaldo de campo – foi ele que deu o golo a Adriano – a equipa não mudou. Sim, mudou a velocidade porque Robinho é bom de bola, mas o esquema foi o mesmo. É o esquema de “Deus está connosco”, cheio de banalidades, de acasos e de negligências. Ontem, o Brasil não me fez saltar da cadeira, mas também é verdade que todos esperam do escrete que ele seja um misto de rolo compressor e de preciosidade do samba (com Ronaldinho, Adriano, Cicinho, Robinho, Kaká, é o mínimo que se espera). A Austrália, que tem Kewell, Bresciano e Viduca, por exemplo, quase fazia afinar o ritmo. Por que não o fez o Brasil? Porque tem medo. E quem tem medo só ouve as “Melodias de Sempre”.

2. Sobre Ronaldo. Eu gosto dele, o desgraçado. Mas a verdade é que ele não se mexe, não pode correr, assobiam-no, comentam-no, e ele não joga. Eu acho que o escrete devia levá-lo ao Mundial, tal como Scolari achou, e bem, que deviam levar Jorge Andrade. Cada um no seu lado, cada um na sua equipa. Mas lesionados.

3. Ontem não falei do Gana, mas devia – dois tiros nos branquinhos europeus. Deu gozo vê-los jogar, marcar e, sobretudo, festejar. Acho que, quando forem eliminados, vão marcar um golo só para festejar outra vez.

4. A França empatou. É sempre bom; e cada vez melhor. Dá ânimo.

in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 19 Junho 2006