julho 04, 2006

Desconhecia que houvesse tantos portugueses

1. Há uma coisa que não entendo a agressividade dos "scolarinianos". Têm tudo: a vitória, a perfeição dos penáltis e das arbitragens, a glória - e o reconhecimento da Pátria, engalanada de bandeiras. Mas o ressentimento estraga-os e danifica um pouco as vitórias. Claro, interessa ganhar, ganhar profundamente, ganhar terrivelmente - essa é a glória do futebol. Ninguém quer ter o futebol admirável de Zico e Sócrates e perder para uma Itália manhosa e medíocre. Quando muito, queremos ser a Itália manhosa, mas ganhando já nesta quarta-feira - e isso eu entendo perfeitamente. Mas não percebo a caça às bruxas aos "traidores" que desmerecem a valorosa pátria que anda pelas ruas.

2. Os ingleses, quando querem, são rufias. Esperava-se isso dos tablóides - mas não do "Independent" ou do "Times", por exemplo, que descobriram que Ronaldo piscou o olho aos seus colegas depois da expulsão de Rooney. Isso provaria que o rapaz correu para o árbitro argentino a pedir a expulsão do colega do Manchester United; uma série de idiotas, entre os quais Shearer e Lampard, já disseram que Ronaldo não pode voltar ao United sem levar um estalo de Rooney. Cretinos. Uma piscadela de olho era o mínimo que Ronaldo podia fazer depois de Rooney ter dado um pontapé nas partes de Ricardo Carvalho. Eu, no meu sofá, fiz muito pior. Pisquei mesmo os dois olhos quando vi o pé de Rooney entre as pernas de Ricardo.

3. Quando vem esta fase de pré-época futebolística, tenho sempre saudades de Robson. Quando a Inglaterra foi eliminada pela Argentina e pela mão de Maradona, Robson, que treinava a selecção, estava irritado mas apenas pediu "Que Maradona passe a jogar com os pés." Tamanha elegância apareceu de novo anteontem. Robson diz que Rooney devia pedir desculpa aos ingleses, à equipa e ao treinador.

4. Desconhecia que houvesse tantos portugueses. Julgava que éramos aqueles que constam do Arquivo de Identificação e do Instituto de Estatística. Mas parece que somos mais. Estamos a assistir a níveis insuportáveis de superpopulação, um estranho fenómeno demográfico nesta fase do Mundial.

in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 4 Julho 2006