setembro 30, 2006

Marcar golos é preciso

1. Thierry Henry foi con­siderado o melhor em cam­po no jogo de Londres com o F. C. Porto e Wenger não teve dúvidas: "Fomos os mais for­tes." Foram. O Arsenal ba­nalizou o E C. Porto. Desde a saída de Mourinho, aliás, que o F. C. Porto não conse­gue resultados internacio­nais visíveis. Não se trata de olhar de igual para igual para as equipas europeias, mas de resistir á ameaça de inferioridade. Há uma síndrome Artmedia a vaguear pelo Dragão e, igualmente, a evidência de que faltam pelo menos dois jogadores de grande qualidade em lu­gares essenciais do sistema de Jesualdo Ferreira (sem­pre que posso, insisto num avançado, mas há mais lacunas). Não vale a pena ter um meio-campo de boa qua­lidade se, lá à frente, não se marcam golos quando é pre­ciso. Quem viu a primeira parte do F. C. Porto-Beira-Mar sabe do que falo.

2. Carlos Daniel é um dos melhores narradores de fu­tebol em Portugal. Uma das pessoas que mais sabe de futebol, que eu conheça. Pa­rece que a selecção não gos­tava de Daniel, o que já diz muito da selecção e dos asteróides que gravitam em seu redor. Ora, sejamos cla­ros e directos: selecção não gosta de muita gente pela simples razão de que se jul­ga a bandeira nacional – e não é. E, mesmo assim, eu pos­so dizer que não gosto da ban­deira nacional. Mas não posso murmurar seja o que for sobre os métodos de Scolari ou sobre o resultado de um jogo, sem que saia ao caminho um pelo­tão de vigilantes, de sacerdo­tes e de censores encarregados de zelar pela unidade nacional. Esta gente delira. Tem a seu fa­vor as televisões, a euforia das rádios, a quase totalidade dos editorialistas da imprensa des­portiva (enfim, o negócio não pode colocar-se em risco, como se sabe), as massas. Que mais lhe falta? A selecção de Madail e Scolari é ambiciosa: quer tudo, quer toda a gente a tecer-lhe elogios, todas as vozes em uníssono, todos os joelhos a do­brarem-se. Para eles, o assunto não é futebol; só assim se expli­ca a vontade de ter toda a gen­tinha a aplaudi-los, de quatro. Não lhes basta a imparcialida­de; não: a imparcialidade dei­xa-os surpreendidos, estupe­factos. Eles acham que, com a selecção, não há equidade, im­parcialidade, sentido das pro­porções – quanto mais crítica ou desconfiança. Uma coisa de terceiro mundo. É por isso que eles não gostam de Carlos Da­niel, por exemplo.

3. António Fiúza demite-se ou não se demite? Depois do entu­siasmo das multidões, a ressa­ca adivinha-se triste, sobretu­do para o Gil Vicente.

in Topo Norte – Jornal de Notícias – 30 Setembro 2006