outubro 28, 2006

Os abraços a Vítor Baía

1. O F. C. Porto está mais sóli­do do que o Benfica; os seus níveis de confiança são supe­riores mas – apesar de tudo - não joga muito melhor. Só que o futebol não só não é uma ciência exacta, como depen­de de circunstâncias que flu­tuam apenas ao nível do rel­vado. O Benfica tem a seu fa­vor - apesar de tudo - o nervo­sismo do F. C. Porto. O F. C. Porto tem a seu favor uma so­lidez que ainda não estabili­zou. Este é um teste quase de­finitivo ao futebol de Jesualdo Ferreira depois do fraco jogo de Alvalade. Ele sabe. A partir de agora as desculpas não bastam. O "molho holandês" que Adriaanse deixou no Dra­gão já devia estar mais diluí­do.
Espero que neste jogo re­gressem Anderson e a dupla Fucile-Quaresma. E que se re­pitam os abraços a Vítor Baía. Dizer isto já não é dizer pouco.

2. Luís Filipe Vieira, afinal, vai ao Dragão. Faz bem. “A Bola” de ontem, no seu esfor­ço de engrandecer a alma benfiquista, titulava "Vieira sem medo no Dragão" e "A Bola" sabe do que fala. Vale a pena dizer que Luís Filipe Vieira tinha dito que não ia ao Dragão pelas razões que só ele imagina. Depois, deu-se a reviravolta. Até Gaspar Ra­mos recomendou a Vieira que fosse ver o jogo. O presidente da AG do F. C. Porto também achou mal que Vieira não fos­se ao Dragão logo à noite. Nestas condições, Vieira não tem medo. São coisas de miú­dos. Gente sem juízo.

3. O que "a guerra de palavras" antes deste F. C. Porto-Benfica mostrou a todos é um pouco da natureza humana no seu pior: gente sem juízo, sim; mas tam­bém sem gramática, sem ele­gância e sem pudor. Há um tom imbecil nesta bravata repenica­da fora dos estádios, nesta lenga­lenga. Todos os que gostam de futebol têm o direito de manifes­tar o seu desconforto com esta piroseira.
Pessoalmente, estas acusa­ções deixam-me indiferente, mais pelo burlesco da situação do que pelo seu "contorno extra-futebol". Logo à noite o jogo devia decorrer como acontece com os grandes espectáculos, que constituem, geralmente, lições de civilidade aos selvagens. Ganhe quem ga­nha desde que haja golos.

4. Ainda a propósito do "molho holandês" que ficou no Dragão: o Inter e a Juventus, entre vários
clubes, estão interessados no brasileiro Diego, que está a bri­lhar no Werder Bremen, o líder da liga alemã. Quando penso em certas dispensas do F. C. Porto apetece voltar atrás e despedir Adriaanse outra vez. Mas despe­di-lo mesmo.

5. Voltemos aos "abraços a Vítor Baía" depois de cada golo marca­do: Sabem o que isso significa? Apenas isto – que os clubes pre­cisam de pessoas como Baía, como Jorge Costa, como Pedro Emanuel. Pelo menos o clube de que eu gosto.

in Topo Norte – Jornal de Notícias – 28 Outubro 2006