novembro 04, 2006

Obrigado Inácio

1. O espectáculo periódico da época: depois do primeiro F. C. Porto-Benfica, as sequelas da má gramática que antecedeu o jogo. Teremos de nos confor­mar com esta miséria peque­nina. Vejam bem: eu não sou pela paz futebolística, não sou pela "banda da amizade", pelo "fair-play" total - se é fu­tebol tem de haver malandra­gem, piadas de gosto duvido­so, negaças, ameaças e asso­bios; e tem de haver maledi­cência, mau carácter, vaias, manifestações de incomodi­dade. Mas isso é o futebol, precisamente: querer que os nos­sos (nós) ganhem; querer que os outros (eles) percam, cá dentro ou lá fora (sim, não me venham com a frase habitual, "somos todos portugueses"). Mas, dívidas saldadas, toma­mos o café à mesma mesa, palmadas nas costas, volta­mos ao que éramos. Não neste espectáculo deprimente. Es­tou à espera de um jogo entre as duas equipas em que os au­tocarros não sejam esperados nas esquinas, em que a im­prensa não rejubile com a decadência dos dirigentes, mes­mo em que possamos aplaudir a derrota dos outros – mas aplaudindo. Não isto. Isto, sinceramente, mete nojo. Mesmo não sendo moralista, faz im­pressão. Não é de gente.

2. A jornada europeia serviu para desopilar. O Benfica jogou bem; o F. C. Porto fez um dos melhores jogos da época. Mas a pergunta permanece, chata como o futebol dos dragões na segunda parte do F. C. Porto-Benfica: se eles tomam vitami­nas só para 45 minutos, por que razão não escolhem a segunda parte para nos pouparem os ner­vos? Viram não viram? Por instan­tes suspeitei que a equipa voltas­se ao sistema da boviníssima ma­nada em que tem andado, oferecendo passes ao adversário e cho­rando pelos cantos, pedindo para o jogo acabar. Destroçar aquele golo de Lucho seria um castigo fa­tal que ninguém merecia.

3. Por isso, fico com esta suspei­ta a propósito do F. C. Porto: Bru­no Moraes. Será ele? Convinha que fosse para que não se provas­se que têm razão os que querem um ponta de lança. Nisto, gosto de perder as apostas.

4. O Braga joga em montanha-russa: ganha ao F. C. Porto, perde com o Marítimo e destroça os po­lacos. Carvalhal tem que acaute­lar um plantel ciclotímico. Está aí o Sporting para fazer o teste, depois de Buba lhe ter enfiado um chapéu de três bicos.

5. E olhem para Inácio, a dizer que quer ir ganhar à Luz. Dá gosto ver um treinador falar as­sim, de alto. Na verdade, estou farto daquele discurso de beato, quando os treinadores falam do "respeito pelo adversário", da "concentração" e do "espírito de grupo", do "trabalho co­lectivo" e da força anímica e psicológica do plantei". Um bando de mariquinhas, é o que é. O futebol não se fez para ser jogado por senadores ou gente cheia de cerimónias. Obrigado Inácio. Mesmo que percas, Iná­cio, foi um grande favor que nos fizeste.

in Topo Norte – Jornal de Notícias – 4 Novembro 2006