novembro 18, 2006

Rejubilemos: ganhámos ao Cazaquistão

1. Manuel Alegre acaba de publicar a reunião das suas crónicas de futebol (o livro chama-se "O Futebol e a Vida. Do Euro 2004 ao Mundial 2006", publicado pela Dom Quixote) e há aqui coisas dig­nas de Nelson Rodrigues que, salvo erro, foi o mais brasileiro dos cronistas do futebol brasi­leiro. Onde Nelson é comoven­te na observação da bancada do seu amado Maracanã (cujo verdadeiro nome é Mário Pi­lho, seu irmão e fundador da "Gazeta dos Esportes", o autor desse livro fascinante que é "O Sapo de Arubinha"), Manuel Alegre transporta a epopeia para as páginas do futebol lu­sitano. Ele gosta de Figo, das vitórias e do inesperado. Um dia telefonam-lhe de um jornal a querer saber coisas sobre o congresso do PS: "Escusei-me. O que neste momento me aflige é saber se Cristiano Ro­naldo joga ou não." (pág. 79) Manuel Alegre é um patriota, para quem Portugal está aci­ma de tudo; a minha pátria, pelo contrário, é o meu clube, o meu bairro, a minha rua - ou uma cidade completamente diferente (eis porque sou gremista também). As suas cróni­cas são amostras de um entu­siasmo quase pueril que apro­ximam o seu autor das coisas quotidianas e das distracções mais comuns; coisas humanas, próprias de nós, próprias da alegria de ver futebol. Vão lê-las, aproveitem.

2. Já agora: eu gostaria de assis­tir a um Benfica - F. C. Porto com Manuel Alegre. Seria um jogo e tanto. E seria um triunfo razoável. Eu regressaria com mais um sócio do F. C. Porto.

3. Agora, em homenagem aos patriotas de pacotilha: Portugal rejubilou com os três golos obti­dos diante da excepcional selec­ção cazaque. Vitória retumbante e genial, avassaladora, que esma­gou uma das selecções mais peri­gosas, contundentes e esclareci­das do futebol europeu da nova geração. Não percebo como a rua não foi invadida por fãs a festejar a data. Desculpem a moderação deste elogio – é o pudor que nos li­mita. É o pudor que nos salva. Da­qui até à Ásia Central, a nossa vé­nia.

4. O molho holandês que Adriaanse deixou no Dragão con­tinua a revelar-se: o Werder Bremen agradece ao F. C. Porto ter dispensado por 9 milhões um jogador como Diego - para não di­zer que Hugo Almeida vai subir de forma. Tenho contas a ajustar, sim.

5. Materazzi, aquele italiano ridí­culo que foi cabeceado por Zidane na final com a França, publicou um livro: "O que é que eu disse mesmo a Zidane". O governo francês recusou protecção poli­cial ao jogador, que iria a França apresentar o livro. Uma onda de insanidade percorre esta gente.

6. Anda muita gente preocupada com o peso de Vítor Baía na equi­pa técnica do F. C. Porto. Eu fico aliviado e tranquilo.

7. Vieira e Veiga: como vos dis­se, não há nada para dizer. É o destino.

in Topo Norte – Jornal de Notícias – 18 Novembro 2006