novembro 25, 2006

Ser bom de bola

1. Há um caso José Veiga a circular na imprensa. No meio das cumplicidades e ódios que o seu nome arrasta, como quase tudo no mundo do futebol, há um pormenor de que nunca nos podemos esquecer - o de que o seu julgamento na praça pública, bem como o da TVI a transmitir as imagens dos seus móveis na rua, é perigoso e injusto. Quer ele se chame José Veiga (e já escrevi sobre o personagem) ou tenha outro nome qualquer.

2. Mas há uma ilação a tirar desta circulação de informação sobre o caso dos 4 milhões de euros ainda sem paradeiro - assim eram as contas do futebol obscuras, tergiversando entre empresários e jogadores em percentagens nem sempre claras. Mas o curioso não é apenas isso - mas também os sinais (deixados claramente nos jornais por estes dias) de que há muita gente que sabia desta e de outras histórias antes de a Polícia se ter encarregue de as deslindar. Desde que Santana Lopes mencionou Canal Caveira até hoje, muitas acusações se formularam para o ar, com ar entendido, mas poucas se provaram e muito menos seguiram para tribunal. O futebol é um mundo que acolhe todo o mau carácter que anda aí à solta, dando-lhe outros nomes.

3. O F. C. Porto fez um jogo extraordinário em Moscovo - a equipa mereceu a vitória, merece o primeiro lugar no grupo e merece estar optimista. De alguma maneira, Jesualdo Ferreira sabe, este é o momento chave na época 2006-2007 ou se segue em frente, ou se começa a flutuar ao sabor dos desastres. Até agora, as coisas seguem com uma regularidade pendular. Ainda bem. É bom voltar a existir uma ordem no Dragão.

4. Depois da Andersondependência, há quem formule a ideia de uma Quaresmadependência. Há sempre gente disposta a encontrar problemas onde não existem. A verdade é que não existiu uma Andersondependência; o rapaz gaúcho apenas jogava como sabia - bem. Quaresma está a provar aos idiotas e racistas que ele é bom de bola. É o nosso olhar que depende deles, dos jogadores de excepção. E de Pepe como de Fucile, ou de Assunção e Lucho.

5. Scolari, que quer passar a utilizar mais o seu passaporte italiano, é um dos formuladores dessa teoria medíocre da "dependência"; é por isso que ele não gosta de Cristiano Ronaldo - prefere funcionários particulares que não brilhem, que não sejam ambiciosos e que o deixem ficar bem. Egoísmo tremendo e maníaco. Só assim se entendem as suas declarações assassinas sobre Nani, abrindo uma brecha nos adeptos. "Bah! Cristiano Ronaldo? Ná." A partir de agora, cada vitória do miúdo do Manchester, cada golo seu, cada assistência, cada sorriso, cada corrida, cada alegria - passam a ser derrotas pessoais de Scolari, o rei da amargura. Assim seja.

in Topo Norte - Jornal de Notícias - 25 Novembro 2006