dezembro 02, 2006

Faz parte do espectáculo

1. O Sporting-Benfica já não é o que era. Como dizem os "misters", é só mais um jogo, e Fernando Santos até insistiu em que não era decisivo. Não era. Se o Benfica perdesse, fi­cava a boa distância dos vizi­nhos da Segunda Circular; se o Sporting perdesse, o F. C. Porto podia estender mais a fita métrica a separá-lo do se­gundo lugar. Paulo Bento comportou-se com decência: assumiu que o Sporting era fa­vorito. Fez bem; isso dá ânimo e deita por terra aqueles trei­nadores que estão sempre a fazer o papel de coitadinhos, muito humildes e pobrezi­nhos. Gosto de treinadores ar­rogantes e não me importo de ouvir Manuel José a esgani­çar-se, no Egipto, a dizer que é o melhor do Mundo. Faz parte do espectáculo. O Benfica ga­nhou. Tirem as conclusões.

2. Dito isto, o jogo foi bom e o Benfica provou que fez bom fu­tebol a partir do terceiro minu­to, quando Ricardo Rocha mar­cou. O Sporting sofreu de uma doença chamada Sporting: jo­garam como miúdos queixinhas, de beicinho e aceitando o destino.

3. A polícia fez buscas no está­dio do Benfica e parece que en­controu o que não devia encon­trar: armas (e algumas drogas na casa de um membro da claque), entre outras coisas ile­gais. O fenómeno não é fenó­meno e não é novo, sequer, por mais que se inclinem para este tom – com ares de sociólogo - os dirigentes desportivos. As claques são fundamentais, fa­zem parte da aparelhagem fes­tiva dos jogos. Há amigos meus e comentadores encartados que têm sempre armado o seu dis­curso contra as claques e que as indicam como principal inimigo do espectáculo. Não são. Fazem parte do espectáculo, como as lu­zes, os golos, os falhanços e as vaias. Infelizmente, não é possível exigir um atestado de bom com­portamento e de elevada inteli­gência a cada um dos membros das claques. Mas é possível obri­gá-los a cumprir a lei e a puni-los por desacatos, assaltos, crimes como o incitamento ao racismo ou o consumo e a distribuição de drogas ilegais. Nenhum clube pode encobrir esse enevoado de más re­lações. Os clubes também deviam precaver-se. Mas uma cousa é cer­ta, se me entendem: cada clube tem as claques que tem. Faz parte do espectáculo.

4. Tenho duas campanhas pes­soais, até ao final da época. Uma, em defesa de Cristiano Ronaldo contra as manigâncias e os maus humores de Scolari, o amargo. A outra consiste em relembrar ao F.C. Porto que Diego joga no Werder Bremen. No primeiro caso, Scolari teve de recorrer ao "Benuron" de novo: o miúdo marcou novo golo ao serviço do Manchester. Ataca-o, Scolari, ataca-o. Ataca-o, que ele marca. Faz parte do espectáculo.

5. No segundo caso, Diego foi de novo distinguido como uma peça essencial no Werder Bremen. O que não servia no Dra­gão, serve para os teutões. Mas, claro, eles não sabem jogar à bola. Eu obrigava Co Adriaanse a indemnizar os adeptos do F. C. Porto.

in Topo Norte – Jornal de Notícias – 2 Dezembro 2006