janeiro 13, 2007

As coisas são geralmente merecidas

1. Era uma alegria – o F.C. Porto defrontava o Atlético e devolvia a rapaziada a Alcân­tara com uma palmada nas costas. Não foi assim. Os de Alcântara regressaram em festa e o Dragão ficou deprimi­do, às voltas com o primeiro mini terramoto verdadeiro desde que Jesualdo Ferreira entrou no balneário para pegar numa equipa sem muita confiança. Neste tempo, o F. C. Porto ganhou confiança - e a jornada da Taça foi obra de confiança em excesso. Não vale a pena argumentar que se tratou de uma equipa de segunda linha; vejam os convo­cados - eles são jogadores do F. C. Porto. Isto acontece aos melhores de todos os campeo­natos e já ocorreu, inclusive, com o próprio F. C. Porto. Eu, por mim, punha-os de castigo, mas já se sabe — eu não sou treinador, e na verdade eles precisam de jogar este fim-de-semana e vem aí o Chelsea. Em resumo: foi bem feito. E sempre deu origem a piadas bem merecidas.

2. Jesualdo defendeu a "para­gem de Inverno". Continuo a dizer que é errada. Uma sema­na de férias compreendia-se, no limite; mas isto? Jogadores regressados em stress, ritmos que se perdem - e, sobretudo, adversários que retomam a pis­ta. Se não se importam, dêem Clausewitz a ler ao treinador: até Maio, a guerra é geral, é permanente, é total, é impiedo­sa e deve ser humilhante para os adversários. Não basta ga­nhar e estar na frente: é preciso que o adversário não tenha tempo de recuperar. Mourinho sabia. Jesualdo sabe, mas é um bonzão de feitio. Não pode.

3. E vem aí o Chelsea com "meio Mourinho", que nunca pareceu admitir bem a hipótese de ter uma equipa construída à semelhança do Real Madrid, com estrelas que não o deixam jogar como gosta. "Meio Mouri­nho" também é uma expressão de que gosto – ele merece. Inclu­sive merece algumas piadas so­bre o seu sucesso incontinente. "Meio Mourinho" sim, porque está com um pé de fora e vai repetir o ar enfastiado com que, há anos, saiu do F. C. Porto pela por­ta lateral. Na época, o conflito foi mal resolvido e continua por esclarecer; mas foi no F. C. Porto que Mourinho conseguiu cons­truir uma equipa de verdade, a jogar como ele gosta, a ganhar o que havia para ganhar. No Chelsea, Abramovich impôs jogado­res e julgou que milhões faziam uma equipa. Enganou-se. Tam­bém ele merece perder. Para já, até ao fim da época perdeu meio Mourinho.

4. O Benfica ganhou o torneio do deserto sem marcar um golo re­gulamentar. Se marcasse um golo que fosse, as primeiras pági­nas da "imprensa desportiva" já lhe chamavam campeão nacional. Parabéns, ainda assim. O Bayern e a Lazio não são o Atléti­co, bem vistas as coisas – e eu não sou injusto. Sou apenas meio hooligan de sofá.

5. A parvoíce da "paragem de Inverno" interrompeu o que não podia ser interrompido. Da­qui até Maio (tirando uns "jogos europeus" e pausas para a se­lecção) o essencial é o campeo­nato , e todos o sabem.

in Topo Norte – Jornal de Notícias – 13 Janeiro 2007