fevereiro 24, 2007

Das maldições e da vantagem da sorte

1. Há uma maldição no Sporting? Há. Vem desde José Peseiro pelo menos, para não irmos à his­tória de Alvalade. O empate com o Aves é um daqueles golpes de azar que destrói as esperanças de Pau­lo Bento e do clube. Não por ser um empate com o Aves, mas porque o Sporting está a habituar-se a resultados que o deixam no limite da glória e no átrio da perdição. É uma maldição, sim.

2. Há sobre José Mourinho uma maldição – a dele próprio. Creio que vive bem com isso e com o seu imenso, avassalador génio e com o formidável talento que apregoa. Todos nos lembramos da ocasião em que afirmou "estar escrito" que o F. C. Porto seria, campeão. O pequeno mundo português tremeu; há muito tempo que ninguém tinha desafiado a deliciosa pequenez lusitana daquela maneira. E, no entanto, ha­via naquela frase uma certeza e uma determinação apaixonadas – no próximo ano seremos cam­peões. Mourinho passou então a ser o bruxo de serviço, porque foi campeão, sim. Também disse, numa fase da Liga dos Cam­peões, que ia ganhar à Grécia de­pois de um resultado duvidoso nas Antas. Foi. Há quem diga que ele sabia que ia perder a derradei­ra Taça de Portugal para o Benfica e que, com uma semana de antecedência, adivinhou as substitui­ções do Benfica naquele derradei­ro Benfica-F. C. Porto no velho Es­tádio da Luz e teria mandado vigiar
Sokota, que não jogava há semanas. Esse talento transformou-se em maldição. Na semana passa­da, antes e depois do jogo do Chelsea com o F. C. Porto, Mouri­nho e Wenger, o treinador do Ar­senal, discutiam sobre quem era o melhor do mundo. Mourinho não viu a maldição cair sobre ele. Mas caiu. Admitiu que era o melhor. Se Wenger e o Arsenal ganharem e se o Chelsea perder com F.C. Porto, Mourinho está tramado. É uma maldição que o seu talento não merece mas que o seu feitio está a pedir. Mas não é crime ter feitio.

3. Há uma maldição nos jogos do F. C. Porto com os ingleses? Não. De­pois do jogo contra o Chelsea, esta semana, a segunda mão em Stamford Bridge está ao alcance. Basta não quebrar a equipa com trocas de alas, como aconteceu na quarta-feira.

4. O Benfica jogou bem com a equi­pa dos coxos de Bucareste e mere­ceu ganhar. A vantagem da sorte chama-se PSG, a eliminatória se­guinte. Com o Braga, agora estra­nhamente comandado por Jorge Costa, o Benfica confirma um bom momento de vantagem do seu fute­bol: claro, transparente, lúcido. Não criativo nem exuberante. A exube­rância chama-se Miccoli.

5. Quaresma mostrou mais uma vez quem é: sobre ele paira a maldi­ção do talento e o azar de viver num país de invejosos. Mourinho teve medo de Quaresma.

in Topo Norte – Jornal de Notícias – 24 Fevereiro 2007

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