março 31, 2007

Depois disto, as finais aproximam-se

1. Jesualdo Ferreira mostrou-se decidido pela primeira vez neste campeonato; pela primeira vez neste campeonato, o treinador do FC Porto foi claro em relação ao resultado: só há um possível, a vitória. Curiosamente, à mesma hora (um pouco mais cedo, concedo), Fernando Santos excedia-se; ele, que é tão moderado, acredita piamente na vitória. Vai ser um jogão numa Luz incendiada de vermelho. "Respeitinho é que é preciso", dizem-me. Lamento desiludir: nada disso. Se é para haver respeitinho, mais vale não jogarem. Quero um jogo como deve ser. Ou sem golos, mas bem disputado. Ou com golos, mas sem casos. De resto, a travessia decisiva do campeonato vem depois deste jogo.

2. Já escrevi isto, mas repito: que seja um jogo leal, francamente leal. Espero, por isso, que Anderson regresse ao relvado e faça uma boa dupla. E que olhe, por cima, sobre Katsouranis. Era bonito.

3. Mas quase apostaria que o jogo vai passar por Petit, Simão e Nuno Gomes, de um lado; por Quaresma, Lucho e Raul Meireles, do outro (ainda não se sabe se Lisandro e Anderson comparecem). Quase. Porque num Benfica-FC Porto não há jogadores decisivos à partida. É o que vale. Eu, por mim, também espero que Bosingwa possa jogar, mas isso é um pormenor.

4. Fernando Santos diz que não vai prestar atenção especial a Quaresma. Mas a culpa não é dele; é do jornalista que lhe fez a pergunta. É como se fosse perguntar a Jesualdo se teria especiais cuidados com Simão. O problema dos treinadores, nestes jogos, é que têm de pôr à prova a sua capacidade de abstracção, acreditando num modelo de jogo, num esquema, e nas competências do adversário. Nem sempre é fácil, mas se se lembrarem de Mourinho sabe-se do que falo. Ele imaginou, daquela vez (o último jogo no velho estádio da Luz) que Sokota ia entrar depois do golo de Deco. Vai ser um jogo de treinadores encarniçados. Muito táctico sim, mas só a princípio.

5. A imprensa delirou com a contratação de Fábio Coentrão pelo Benfica. Upa. Foi uma grande notícia, um alento considerável, a grande contratação da época. Ena. Upa, upa. Ao pé disso, a improvável ida de Cristiano para o Real é quase nada. O contrário seria, digamos, Ronaldinho Gaúcho assinar pelo Desportivo das Aves.

6. Depois do jogo contra os belgas, onde Cristiano Ronaldo e Quaresma enfeitiçaram aquela armada frouxa vinda de Bruxelas, esperava isto – um jogo com a Sérvia para recuperar o manual scolariniano. E o que diz ele? Isto: nada de ousadia, nada de encantamentos, vamos ser realistas. Esses treinadores dão-nos alegrias no fim, mas deixam-nos à beira de um ataque de nervos de jogo para jogo, como se a nossa obrigação fosse confiar. Está bem que travámos os sérvios, que tiveram o seu momento de ouro; mas foi Scolari do mais puro. Resultado? Subimos ao segundo lugar na tabela. Querem coisa mais irritante?

in Topo Norte - Jornal de Notícias - 31 Março 2007

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