setembro 01, 2007

Patriotas, cerrai fileiras

1. Trata-se, de novo, da his­tória do patriotismo lusitano. Acho bem que o tema ressurja e se discuta; e, para que não haja dúvidas, desta vez penso que Scolari tem razão. O treinador da nossa selecção de futebol evocou os casos de Nelson Évo­ra, ou de Obikwelu (mas poderia falar desse nome lusitaníssimo: José Bosingwa) como exemplos de cidadãos portugueses que representam o país em competi­ções desportivas – e ganham medalhas –, justamente quando se ouvem críticas sobre a con­vocação (aliás falhada, por le­são) de Pepe, um brasileiro na­turalizado português. Foi o mes­mo com Deco; a sua convoca­ção, na altura, foi seguida de um coro de patetices (sobretudo inexplicáveis as de Figo, sobre "cantar o hino" e outras suposi­ções patrióticas). O que está em causa, neste discussão, não tem a ver com futebol. Tema ver com o pior lado do patriotismo, que é o do preconceito. Por exemplo: eu, quando brinco com Scolari, não é por ele ser brasileiro. É, em segundo lugar, por ser de Passo Fundo, na serra gaúcha (a terra da bela mode­lo Letícia Birkheuer, vale a pena dizer), onde se come um "galeto" formidável; mas, em primeiro lu­gar, é por ser treinador da selec­ção. Sei lá se é brasileiro. Está ali, é para levar.

2. Por exemplo, no último F. C. Porto-Sporting, eu propus que os jogadores portistas que tives­sem passado pela selecção fos­sem obrigados (como os astro­nautas) a uma rápida quarentena para desinfestação e reparação. Não sei se repararam mas, de­pois de terem defrontado esse colosso do futebol chamado Ar­ménia e de terem conseguido um milagroso empate, os rapazes estavam frouxos. Pensem duas vezes antes de os deixarem ir.

3. A semana não está para polémicas, lamento. Depois do sorteio da Liga dos Cam­peões, as equipas portuguesas tiveram um choque de realidade. Até aqui, todos eram putativos campeões, mas nomes como Manchester, Liverpool, AS Ro­ma, Inter ou Celtic puseram em sentido as euforias provincianas. É, certamente, outro campeona­to – mas serve sobretudo para esfriar as pequenas arrogâncias de quem se julga "o melhor do mundo" e essas coisas, ou está habituado a gemer de vaidade sempre que se aproxima um jogo caseirinho. Agora é outra músi­ca.

4. A frase mais corajosa da se­mana é a do presidente do Belenenses, confrontado com o sor­teio que lhe forneceu o Bayern de Munique para a Taça UEFA: "Vamos jogar agora com o Bayern e vamos ver quem nos calha a seguir." Queriam o quê? É assim mesmo. Patriotas, cerrai fileiras.

in Topo Norte – Jornal de Notícias – 1 Setembro 2007

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