outubro 27, 2007

Os mariquinhas do fair-play

1. Gostei muito de ver jogar o Braga contra o Bolton e temo dizer que o resultado foi injusto. Toque de bola: foi bom ver aquele manuseio diante da área adversária, uma espécie de valsa redundante com dois disparos fatais, o de César Peixoto e o final, de Jailson, no meio de outros passos de dança. Os práticos dirão o evidente: que foi curto o resultado. É verdade, porque os próximos dois jogos são perigosos – mas eu ficaria triste se não o dissesse: gostei de ver jogar o Braga. Como a leveza dos golos (insuficientes) do Atlético de Madrid; repararam?

2. Escandalizaram-se os medricas do “fair-play” com a decisão do FC Porto, que anunciou que vai “deixar de colocar a bola fora para que os jogadores adversários sejam assistidos”. Raul Meireles disse o essencial: há quem se aproveite do “fair-play”. Há sempre um Dida metido na história, se bem que o FC Porto já registasse casos de malandrice – na altura, classificada como congénita, quando Paulinho Santos saiu de maca a piscar o olho a Rodolfo Moura. Já perdeu uma eliminatória, contra o Bayern, por ausência de “fair-play” dos alemães. Se bem que não existam equivalências morais, a decisão do FC Porto é arriscada no país dos medricas do “fair-play”.
Frequentemente (para quem vê jogos pela televisão ou escuta os relatos da rádio) há comentadores que falam de “faltas inteligentes” ou de faltas simuladas que são justificadas “pela muita experiência” do jogador que se atia para o chão mal pressente uma corrente de ar. A história das “faltas inteligentes” é irritante; as faltas e penaltis arrancados “com inteligência” deviam ser punidas com cartão vermelho. Sigam o exemplo do râguebi, onde não se fingem mariquices dessas.
Portanto, o FC Porto faz bem em anunciar que não há chances para burlões. Mas isso implica uma responsabilidade acrescida para o clube: a de não fingir as suas próprias “falsas faltas”. É uma responsabilidade, mas é um desafio lançado de alto e com sentido de oportunidade.

3. O FC Porto empatou com o Marselha num jogo que poderia ter ganho sem penalti. Mas bola na trave, já se sabe, é bola mal chutada. Não conta. Jesualdo Ferreira, no final, como um mestre – que é –, explicou por que razão “as coisas” tinham corrido assim. Ele tem razão, mas eu preferia que explicasse “as coisas” antes do jogo. É talvez uma tarefa difícil, mas é possível; basta ver como aconteceram “as coisas” em jogos anteriores. J. A. Camacho, no Benfica, fez uma coisa parecida quando disse que o Benfica não ganhava porque a bola não entrava. É, como escrevi na semana passada, o cúmulo da honestidade; mas eu preferia que Jesualdo tivesse o dom da antevisão – e os mandasse meter a bola na baliza. Com “fair-play”, se possível; ou à bruta, se necessário.

in Topo Norte – Jornal de Notícias – 27 Outubro 2007

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