dezembro 08, 2007

Elogio do Chaves e do Quaresma

1. O Desportivo de Chaves não é apenas uma boa equipa – é uma equipa de resistentes, o derradeiro reduto de Trás-os-Montes no futebol, a horda de heróis que atravessa o pobre futebol das províncias. Só uma equipa assim conseguiria fazer o que o Chaves fez ontem. Lembro-me de momentos heróicos do GD Chaves ao longo da sua história e tenho pena da sua descida, de escalão em escalão, e da apatia de muitos responsáveis que poderiam ter feito mais ou daqueles que desonraram um trabalho feito e notável, muito digno. Sou daqueles que assistiu ao momento crucial da sua biografia, quando subiu à I Divisão, quando foi às competições europeias. É uma pena que não tenha mantido a sua poeira de glória. Mas foi essa poeira que, ontem, obrigou o FC Porto a meter Lisandro. Espero que o António Borges, que recordo da minha adolescência flaviense, possa trazer de novo o GD Chaves para o escalão superior.

2. Jesualdo não iria inventar, ontem e no jogo com o Liverpool – mas inventou. É a tentação de todo o treinador. Há nos treinadores, mesmo nos mais conservadores, um brilho nos olhos mal sentem que estão em condições de mudar e surpreender. Geralmente corre mal. Porquê? Porque um treinador conservador não pode mudar muito. Mesmo que sinta a tentação. Geralmente, aliás, é a tentação do abismo.

3. Filipe Nunes Vicente escreve maravilhosamente sobre futebol no blog “Mar Salgado”. Melhor do que isso: ele, benfiquista, escreve superlativamente sobre o Benfica. É o seu melhor cronista, o seu melhor comentador. Assim viu ele o resumo do Benfica-FC Porto da semana passada: “O jogo de hoje concretizou a epistemologia benfiquista de sonho: o treinador é o Chalana, o adjunto é o Camacho, o Barbas é o Vilarinho e o motorista é o Vieira. Mai nada.” Aristotélico. Vão ler, que ganham muito – é uma escrita excelente que gosto, sempre, de homenagear.

4. Quaresma explicou o que era uma trivela no estádio da Luz, coadjuvado pelo público que o assobiava de cada vez que tocava na bola. Numa noite assim apeteceu dizer a única coisa que parecia certa: sessenta mil benfiquistas foram ver o FC Porto jogar. Só tiveram direito a 60 minutos, mas valeu a pena. Há um pouco de racismo nos assobios a Quaresma; ele agradece: sente-se aquela rebeldia irónica. Valdano escrevia sobre a arte de fazer coisas próximas do talento puro, situando Quaresma entre os grandes artistas. Mas Quaresma é solista de outra música. Conhece a magia do jogo.

5. Vieira e Veiga, Dupont e Dupond, Paulo e Virgínia, o Gato e o Rato, Cara e Coroa, Romeu e Julieta, Coca e Pepsi. Não sei qual deles. Ninguém sabe. Há gente que arrasta quezílias pela vida fora. Heróis e vilões. Escolham.

in Topo Norte – Jornal de Notícias – 8 Dezembro 2007

Etiquetas: