fevereiro 25, 2008

Blog # 36

As novelas da Justiça portuguesa deviam indignar-nos. A palavra está gasta e não significa nada – mas poderíamos ser mais claros: devíamos zangar-nos. Já estávamos preocupados, mas agora devíamos zangar-nos mesmo. Ontem, neste jornal, João Vaz chamava a atenção para o descrédito que banaliza qualquer decisão dos tribunais sobre questões políticas e partidárias. Tem toda a razão. A mesma coisa acontece nos processos relativos ao ‘Apito Dourado’, sob os quais pende a desconfiança de estarem sustentados em profissões de fé, ou pura ignorância, dos investigadores ou dos magistrados. A guerra entre a Procuradoria e o Governo é outro dos enredos que pode vir a terminar mal. Para já, desconfiamos das investigações, desconfiamos dos juízes e desconfiamos dos processos. Acabaremos, mais tarde ou mais cedo, a desconfiar da lei – o que seria uma tragédia, num País que tanto gosta de legislar sobre tudo e que se transformou numa cacofonia onde toda a gente fala ‘jurisdiquês’.

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A colombiana Ingrid Betancourt foi raptada pelas FARC há exactamente seis anos. Parece que as FARC e o seu cúmplice Hugo Chávez preparam um espectáculo para a sua eventual libertação. Isso não surpreende. O que surpreende é que haja quem admita que isso apenas foi um pequeno erro censurável, ‘matéria política’ irrelevante.

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- A Editorial Caminho prepara a edição de um dicionário dos Judeus portugueses. Obra monumental e necessária.

- A Cavalo de Ferro publicará, neste Primavera, a tradução de ‘Rayuella’, de Julio Cortazar. Animem-se: não é todos os dias que se recupera um clássico.

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FRASES

"O poder político-partidário faz tudo para esvaziar a Justiça. Os eleitos acham que o voto democrático lhes dá todo o poder." João Vaz, ontem no ‘CM’

"Os povos oprimidos só merecem a solidariedade da esquerda se a sua desgraça puder ser atribuída aos americanos." Ana, no blogue Ana de Amsterdam

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