Blog # 149

Se há coisa que não entendo é o ar escandalizado dos vários mandarins e burocratas do Comité Olímpico Internacional diante das restrições à liberdade de circulação e informação impostas aos jornalistas estrangeiros que vão trabalhar na cobertura dos Jogos. Aliás, ninguém deve entender que se esperassem facilidades da China ou que os jornalistas e atletas pudessem, por exemplo, consultar a internet livremente; não podem. Aliás, nem nas cabecinhas dos negociantes dos Jogos Olímpicos isso passou alguma vez – para eles, desde que o negócio se faça e desde que a televisão não passe imagens das misérias e da repressão, os Jogos são um sucesso. Essa gente, habituada a não responder pelos seus actos, não merece confiança. Aliás, bem vistas as coisas, nem merecem os Jogos.

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Atenção, viajantes! Vai sair, por estes dias, 'Uma Ideia da Índia', de Alberto Morávia (um clássico), em edição Tinta-da-China (e tradução de Margarida Periquito): um título fundamental para quem quer conhecer o subcontinente.

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FRASES

"Não se admirem me virem invadir o campo e correr nua para os braços de Quique Flores." No blogue A Pipoca Mais Doce.

"Privada da liberdade mais de 16 meses sem que para tal existissem fundamentos." Advogado de uma mãe de três filhos, e que vai processar o Estado português, ontem no CM.

Blog # 148

Vai uma grande orgia pelas praias algarvias. Famílias inteiras, entregues ao prazer do sol e do mar, abandonam-se também – em pleno 'espaço público' – a massagens que podem ser perniciosas para o pudor da Pátria. Não sou eu quem o diz: é o comandante da Zona Marítima do Sul, que eu ouvi numa reportagem da TSF. Segundo o comandante sabe-se como uma massagem começa mas nunca se sabe como acaba – o leitor que imagine o despautério e a desvergonha. Uma coisa leva à outra e o comando marítimo tem de zelar pela nossa integridade física, pelo pudor das quinas e da esfera armilar. O Allgarve pode ser cosmopolita mas há massagens e massagens e nunca se sabe como reage esta gente que se estende ao sol para ser friccionada com bálsamo e arnica. Vai uma grande orgia nestas cabecinhas.

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O editor da Guerra e Paz, Mário Sena Lopes, pode festejar uma primeira edição esgotada de quarenta mil exemplares do livro de Gonçalo Amaral, o ex-inspector da PJ, sobre o caso Maddie. Uma segunda edição está nos prelos, a aguardar.

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FRASES

"O PS não recebe lições nem aprende nada. Um dia ainda chumba." Afonso Azevedo Neves, no blogue A Grande Alface.

"Há uma série de buracos para onde o dinheiro se esvai sem explicação." Bettencourt Picanço, prsidente do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado, ontem no CM.

Blog # 147

O presidente do júri do Prémio Camões disse que o grupo de jurados que distinguiu João Ubaldo Ribeiro "decidiu que centraria a sua discussão em escritores brasileiros". Salvo erro, isto é sacanagem. Em primeiro lugar, contra João Ubaldo, que não merecia ser escolhido só entre 50% dos candidatos; em segundo lugar, contra o Prémio Camões, que mostra a rotatividade luso-brasileira (com migalhas para África) decidida nos gabinetes políticos. Entre nós, já se sabia que um ano tocava a uns, no ano seguinte a outros. Mas admiti-lo assim, se não é hipócrita, constitui uma idiotice que não devia ser permitida. Um prémio como o Camões deveria ser defendido de oscilações temperamentais e ser poupado a jogadas que não o enobrecem. Ou então que passe a ser escolhido nas chancelarias.

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Esquecemos os clássicos, mas não convém. Um deles é 'O Coração das Trevas', de Joseph Conrad (quem não viu 'Apocalypse Now'?), agora em edição da Nova Vega, com prefácio de Isabel Fernandes. Para saber o que é a vertigem.

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FRASES

"É criar uma estrutura que incentive a denúncia da corrupção." J.L. Saldanha Sanches, fiscalista, ontem no CM.

"Quando faço crítica literária, comento literatura, não comento ideologias." Eduardo Pitta, no blogue Da Literatura.

Blog # 146

A Embraer, empresa brasileira de aeronáutica, vai abrir uma fábrica para produzir os seus jatinhos em Évora. É uma boa notícia mas convinha não se perder no conjunto dos PIN – Projectos de Interesse Nacional. O hábito de requerer o primeiro-ministro mais o governo em actos de inauguração de empresas e unidades fabris privadas dá uma ideia deficiente sobre o que deve ser a economia de um país civilizado: quanto mais longe do Estado, melhor, cumprindo as regras. De resto, esta omnipresença é um sinal dos tempos e da debilidade da chamada sociedade civil, sempre dependente do Estado e das suas iniciativas, da sua liderança e do seu trabalho. Dá, também, uma ideia do que nos aguarda: estarmos à espera de facilidades do governo para que as empresas se instalem. Não é bom.

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Na sua bela série de capa dura e pequeno formato, a Tinta da China acaba de publicar uma preciosidade: 'A História de um Rapaz Mau', de Thomas Bailey Aldrich. O personagem é um patife adorável, o perfil do americano de outras eras.

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FRASES

"A acção dos agentes terá impedido a consumação de crimes." PSP de Santarém, depois de uma brigada da PSP ter sido assaltada e agredida, ontem no CM.

"Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és. Esta semana foi com Hugo Chávez." Joana Carvalho Dias, no blogue Hole Horror.

Blog # 145

O Verão vai a meio e há demasiadas coisas estapafúrdias no ar. Porém, depois do foguetório, das romagens e das parlapatices, é grave que tenhamos de voltar ao 'caso Esmeralda' para concluir que ainda não foi resolvido. É um assunto triste e desolador. A acusação que agora pende sobre o casal de acolhimento (a de ter "vitimizado" Esmeralda) é sinal dos tempos modernos. Qualquer indigente pode apropriar-se linguagem de "laboratório traumático" e fazer teoria com o assunto, o que dá uma ideia de como os tribunais podem ceder à perversidade e serem ocupados pela opinião pública. O problema, no entanto, é Esmeralda – sobre quem não pode aplicar-se a justiça de Salomão, sob risco de transformar a vida de muitas outras crianças num caos insuportável. Uma criança não se entrega.

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Francisco González Ledesma é um autor catalão de romances policiais, onde o herói é um polícia velho e birrento chamado Méndez. A Pergaminho publica 'Uma Novela de Bairro' – é uma boa oportunidade para conhecê-lo. A não perder.

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FRASES

"Nunca casou, nem tem filhos. Vizinha do septuagenário que ameaçava disparar sobre toda a gente" numa clínica de Lisboa, ontem no CM.

"Consta que existe vida lá fora." Sofia Vieira, no blogue Controversa Maresia.

Blog # 144

Eu não me importo de pagar 35 euros por ano para financiar estudos e projectos sobre energias renováveis. Na verdade, devemos preparar-nos para substituir o petróleo e o nosso endividamento às más companhias que o comercializam e produzem, bem como insistir na 'questão ambiental'. É um dever de todos. Mas não quero duas coisas: nem subsidiar essas energias no seu conjunto e por período indeterminado nem favorecer, fora das regras do mercado, esta ou aquela empresa. Além disso não quero que me façam pagar esses 35 euros de forma sacana, às escondidas. Prefiro que me perguntem: queres pagar 2,91 euros por mês aplicáveis no desenvolvimento de energias renováveis? E eu respondo: sim. Mas às claras. Assim, como está (veja-se o CM de ontem), acho que é uma malandrice.

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Para este Verão, também — uma biografia 'dura': 'Lenine: Uma Nova Biografia', de Dmitri Volkogonov (Edições 70), que foi colaborador de Ieltsin e trabalhou na abertura dos arquivos soviéticos. Escreveu também uma biografia de Trotsky.

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FRASES

"No poder, por natureza, pensa-se pouco e tende-se a desprezar quem pensa." João Gonçalves, no blogue Portugal dos Pequeninos.

"Se não me prenderem depressa, mato esta gente toda." Septuagenário, depois de balear uma funcionária de uma clínica, ontem no CM.

Blog # 143

Apesar de ter sido arquivado, o "caso Maddie" não terminou. Há aquela dúvida. Aquela – saber o que aconteceu com Maddie. A dúvida permanecerá por anos, inspirará várias ficções e será um caso estudado pelas polícias. Numa sociedade cheia de crispação e ressentimento, como a nossa, o caso acrescenta mais combustível aos sinais de revolta evidente contra as instituições (o Estado, as polícias, a justiça, a família, o jornalismo, por exemplo), que se acusam mutuamente mas em surdina. Poucos casos como este evidenciaram ódios e desleixos tão profundos e o perigo de misturar convicções e evidências no mesmo saco. O que mais sobram, agora, são dúvidas – e custa a crer como o poder político, manhoso, se distancia do assunto como se não fosse nada com ele. O caso não terminou.

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Sempre achei graça ao nome do produtor do Licor Beirão: J. Carranca Redondo. E ao próprio licor que, agora, tem um livro que lhe é dedicado: 'Licor Beirão. História e Receitas', de M. Margarida Pereira-Müller (Colares Editora).

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FRASES

"Pode-se ser pelos direitos sexuais e surdo aos direitos sociais, culturais, económicos, políticos." Luís Januário, no blogue A Natureza do Mal.

"É por andar há vinte anos a falar no Acordo Ortográfico que agora me calo." Vasco Graça Moura, ontem no CM.

Blog # 142

Enquanto em Portugal o casamento dos homossexuais se anuncia como uma inevitabilidade que não vai causar polémicas especiais (espero), oito mulheres e um homem foram este fim-de-semana condenados à morte por apedrejamento, no Irão. Elas, acusadas de prostituição, adultério e incesto; ele, de 'práticas sexuais ilícitas'. As notícias sobre apedrejamentos e fuzilamentos por 'motivos sexuais' (adultério ou relações homossexuais), na Arábia Saudita ou na Palestina, no Sudão ou no Irão, acumulam-se umas sobre as outras até se banalizarem. Muitos dos que defendem 'causas fracturantes' na Europa (onde é fácil), abstêm-se de condenar as tiranias do Médio Oriente onde se mata com determinação por causa de um beijo roubado. Suspeito que estão à espera de, mais tarde ou mais cedo, condenar Israel.

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Ao longo de um ano, o argentino-canadiano Alberto Manguel tomou notas diárias sobre as suas leituras, de Kipling a Machado ou Goethe. O resultado está em 'Um Diário de Leituras' (edição Asa), um livro belíssimo, a ler e imitar.

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FRASES

"A probabilidade de Sócrates não fazer ideia do que é um 'progressista' ou um 'conservador' é elevada." Helder, no blogue O Insurgente".

"Todos temos de ser controlados." J.L. Saldanha Sanches, ontem no CM.

Blog # 141

O retrato do primeiro-ministro é o de um gestor em dificuldades, e é pena. Enquanto deixa aos outros – medíocres – a tarefa de 'fazer política', ele anda de malas aos tombos, a 'fazer negócios' aqui e ali, em Angola e na Líbia, onde estão mercados ao nosso alcance. A política está pobre e ele aproveita para captar fundos. Longe do PS doméstico, uma espécie de rumor distante e cacofónico, Sócrates distribui elogios a Eduardo dos Santos e a Khadafi, como se isso não tivesse importância. Não deve ter, porque daqui a nada vem Hugo Chávez e os dois darão um forte abraço em nome dos negócios e do petróleo. Portugal transforma-se num cenário atípico da 'política de emergência', flutuando e vendendo ao melhor preço. Não isso que ela, a política, tem sido nos últimos tempos?

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Vamos festejar, ainda este mês, o regresso de Dinis Machado – através de Dennis MacShade, o seu pseudónimo de 'literatura policial'. É o regresso feliz do seu personagem mais fantástico, Peter Maynard, em edição da Assírio & Alvim.

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FRASES

"Os nossos pungidos economistas desapareceram para a posteridade." Mason, no blogue Almocreve das Petas.

"A Líbia é um dos nossos parceiros estratégicos." José Sócrates, ontem no CM.

Blog # 140

Há dias, o ministro da Cultura prometeu que iria digitalizar todo o espólio de Jorge de Sena para que fique "ao alcance de todos os portugueses". Há semelhantes propostas em relação ao espólio de Fernando Pessoa, evidentemente. Em breve alguém prometerá a digitalização do espólio de Teixeira de Pascoaes, de Vitorino Nemésio ou de Vergílio Ferreira. A febre digitalizadora promete ser democrática e vital para a cultura portuguesa – mas não é. Na verdade, Sena continua a ser ignorado enquanto autor impresso e Pascoaes, Nemésio ou Vergílio afastados da escola secundária. O 'choque tecnológico' pode disponibilizar os papéis dos escritores, antes apenas acessíveis aos investigadores e estudiosos – mas não providencia nem mais leitores nem mais leitura. É a tentação dos novos-ricos.

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Nunca tinha lido 'O Fim de Lizzie', de Ana Teresa Pereira, nem – tanta incultura – o pequeno 'Sarrasine', de Balzac (tão gabado por Barthes). Estão disponíveis em bolso (Biblioteca de Editores Independentes) por menos de 10 euros.

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FRASES

"Houve uma discussão com uma mulher e, de repente, começou tudo à porrada". Testemunha, depois de um rapaz ter sido esfaqueado pelo namorado da mãe, ontem no CM.

"O amor existe no estado gasoso. É volátil." Teresa Ribeiro, no blogue Corta-Fitas.

Blog # 139

É provável que José Sócrates, lendo bem as entrelinhas das sondagens mais recentes, tenha percebido que pode perder a sua maioria "por causa da esquerda". Não por causa do Bloco ou do PCP, mas "por causa da esquerda", onde também está o nome de Manuel Alegre, por exemplo. A vida até lhe correria bem caso a crise internacional não viesse atrapalhar as contas e obrigá-lo a redesenhar os números do crescimento económico e da arrecadação de fundos para o Estado. Acontece que os portugueses são gente pouco compreensiva – eles acham que um governo merece confiança desde que o bolso não se esvazie totalmente, como é sabido. Em horas de crise, não há nenhuma "ética do eleitor". O Marquês de Sade explicou isto em 'Os Infortúnios da Virtude'. O povo não leu Sade mas conhece-o de ginjeira.

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Nunca é demais chamar a atenção para o livro: 'Pequena História do Tempo', de Leofranc Holford-Strevens (Tinta da China) – é uma pequena maravilha sobre a medição e a substância do tempo. Por que o tempo é como é? Imprescindível.

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FRASES

"Resta-nos ir de táxi." Presidente dos bombeiros de Castro Daire, que têm apenas um carro, ontem no CM.

"Cinco anos a escrever na blogosfera é digno de pena e caridade, nada mais." Lourenço Ataíde, no blogue Complexidade e Contradição.

Blog # 138

Mesmo que custe a admitir, estamos a pagar a factura de alguns anos de entusiasmo e optimismo histórico – os anos oitenta. Há épocas assim. Longe da crise pretrolífera e dos conflitos armados dos anos setenta, a década seguinte foi de foguetório e espalhafato. Da 'movida' madrilena à literatura 'light' americana, uma onda de 'eterna juventude' passou pelas economias globais (que já existiam) e pela cultura. Perdeu-se a ética do trabalho e do esforço – e uma geração de 'gestores' incultos, de líderes elegantes e de pensadores 'fracturantes', confiando no estado demencial da sociedade, começou a tomar decisões que cabiam aos políticos, que baixaram de nível. Essa gente não vê longe, acostumada que está a contratos de curta duração e ao lucro imediato. Está à vista o resultado.

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Alerta vermelho: a Assírio & Alvim lança ainda este mês o primeiro volume da trilogia de Dinis Machado com a assinatura de 'Dennis MacShade'. É o regresso de Peter Maynard, assassino a soldo. É uma grande novidade, a não perder.

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FRASES

"Não adianta imputar factos sem provas." Advogada do gang da Lapa, ontem no CM.

"É preciso que o futebol regresse ao futebol." Carlos Abreu Amorim, no blogue Blasfémias.

Blog # 137

O debate sobre o racismo em Portugal está confinado ao preto e branco. É compreensível, dados os antecedentes. Mas, em tempo de convivência & guerrilha multicultural, convinha que alargássemos o espectro – o racismo é uma doença perigosa que não é exclusiva dos brancos. Veja-se o que acontece na Quinta da Fonte, com a guerra entre a 'comunidade cigana' e a 'comunidade negra' e atente-se nas acusações, ameaças e justificações: algumas delas são racismo puro e duro, se bem que os patrulheiros da linguagem não tivessem actuado nem pedido a intervenção dos tribunais. A ideia de que se desculpa o racismo dos pobres e dos subúrbios é tão maligna como qualquer outra – salvo que ao abrigo do guarda-chuva da 'falta de educação cívica'. Sitiados, vamos perdendo a coragem.

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'Mas, para Vocês, o Que É o Amor', de Nacykay Shapiro (Asa), é um dos romances de praia para este ano – tem vários ingredientes: amor gay, família em ruínas, descida ao Inferno. Não é uma receita, mas funciona na perfeição.

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FRASES

"Será a outra comunidade a atacar, uma vez que é a comunidade cigana que está a ser atacada." Presidente da Câmara de Loures, ontem no CM.

"Vou agora comer qualquer coisa. Ligam-me se entretanto o Aimar chegar?" Rodrigo Moita de Deus, no blogue 31 da Armada.

Blog # 136

O miúdo Ronaldo devia ter vergonha na cara, mas o império da FIFA dá-lhe razão. Ele acha que está a ser tratado 'como escravo' no Manchester e quer ir para Madrid, onde fica mais perto não se sabe bem de quê – mas o leitor sabe (sim, há escravos ricos – mas não exibem a sua fortuna). Se tivesse um agente à altura, ele estava quietinho em Manchester, de mordaça, com o pé em repouso e a ver repetições do Bonanza. O problema dos talentos portugueses que andam nas primeiras páginas dos tablóides é que não conseguem sequer os mínimos olímpicos da sensatez. Ronaldo está talhado para o quadro de honra do futebol mas, como outras estrelas que se perderam, sofre daquela maravilhosa tentação pela estupidez. Não é o seu talento que é imbecil – é a cabeça, que às vezes até marca golos.

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Há livros que só poderiam ser vendidos nas farmácias e com necessidade de receita médica: é o caso de Só Resta o Amor, de Agustín Fernández Paz (Edições Nelson de Matos) – uma história infiel, como acontece com as que valem a pena.

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FRASES

"Um dia chegam aqui e vai ser só tirar cadáveres." Morador da Quinta da Fonte, ontem no CM.

"As mulheres eriçadas têm muito mais piada." Ana Margarida Craveiro, no blogue Atlântico.

Blog # 135

Não sei se ouviram o debate sobre o 'estado da nação' mas aviso que foi tiro & queda. Ou seja: sofremos de uma doença fatal – o reencontro com a realidade, se é que alguma vez a pátria se confrontou com ela, crua e não muito sorridente. Os fundos europeus e os correspondentes investimentos públicos não puderam evitar esse reencontro que só os autistas pensavam ser impossível de modo a prolongar o estado de festa e entusiasmo permanente. Os portugueses sabem hoje que não podia ser assim: está aí a factura para pagar e o nosso bolso não está preparado. Gastámos muito dinheiro em foguetório, telemóveis e incompetência. Ao contrário dos resultados dos exames escolares, manipulados pelo desejo pueril de facilidade, essa realidade não se pode falsificar. E é só o começo.

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O livro chama-se 'Prazer de Fumar Cigarros', de James Fitzgerald (edição Guerra & Paz), e é o cúmulo do "politicamente incorrecto": "ensina" a fumar, a acender cigarros, a fazer argolas com o fumo, etc. A ASAE ainda não o apreendeu.

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FRASES

"Estamos no delírio da funcionalização, da restrição de direitos civis e políticos." Paula Teixeira da Cruz, ontem no CM.

"A nação, afinal, está no estado que merece." João Gonçalves, no blogue Portugal dos Pequeninos.

Blog # 134

Freitas do Amaral vai, a pedido da federação do futebol, investigar o que se passou na famigerada reunião do seu 'conselho de justiça', e o governo está preocupado com o assunto por causa da "má imagem" que isto dá "lá fora". As manigâncias do futebol começaram a enjoar-me há muito, mas do enjoo passaram a repulsa. É exagero chamar 'conselho de justiça' àquilo. A palavra 'justiça' é nobre e devia continuar a sê-lo. Tal como o futebol, aliás – um espectáculo que devia levar-nos aos estádios com alegria ou loucura, e não fazer sentar-nos a ler relatos das suas trapalhadas e perseguições de bastidor. Eu acho que Freitas do Amaral deve investigar o que se passou, sim – nessa reunião e em muitas outras. No caso do futebol, a palavra 'justiça' está corrompida e ferida de morte.

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A colecção Pequenas Histórias, da editora Tinta da China, é uma experiência tentadora: livros de pequeno formato e de grande qualidade gráfica e editorial: já aí estão a 'Pequena História do Tempo' e a 'Pequena História das Cruzadas'.

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FRASES

"O meu estado civil não me permite comer sardinhas assadas." João Espinho, no blogue Praça da República.

"Nunca estaria disponível para fazer desaparecer o Mosteiro de Alcobaça." Luís de Matos, ontem no CM.

Blog # 133

Tenho um humilde pedido a fazer ao ministro Mário Lino: poderá, por favor, esclarecer-me por onde andam as malas que saem de um avião no aeroporto da Portela para que se justifique a demora de cerca de uma hora e meia até chegarem aos passageiros? O que fazem com elas? Levam-nas a passear por Lisboa, para se acostumarem ao clima? Vão à administração da Groundforce para conferir e receber cumprimentos? Escovam-nas e arejam-nas? Ontem, o actor Peter Coyote, vindo de Nova Iorque às sete da manhã, protestava, boquiaberto por tanta demora. E centenas de turistas, peregrinos e gente comum. Por menos do que isto devia pedir-se um inquérito à eficiência dos serviços de bagagem. Mas a dúvida persiste, em todos os passageiros: o que andam a fazer às malas, durante tanto tempo?

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Promete ser uma das sensações do próximo ano editorial: a Cavalo de Ferro publicará 'Finnegans Wake', de James Joyce, com tradução de Miguel Castro Henriques – no catálogo da editora, é outro dos grandes clássicos a registar.

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FRASES

"Não tenho dúvidas de que este é um sucesso fabricado." Leonilde Pilar, professora, sobre as notas dos exames, ontem no CM.

"Amanhã os desportivos trazem a notícia de que Aimar é quase jogador do Benfica." Rodrigo Moita de Deus, no blogue 31 da Armada.

Blog # 132

Um estudo concluído pela Universidade do Minho alertava ontem as consciências mais modernas da Pátria para o facto de 25% dos jovens entre os 15 e os 25 anos já terem sido vítimas de violência numa relação amorosa. Entenda-se: as moças, em larguíssima maioria. Essa violência inclui o 'sexo forçado' ou a violação, se bem que, para os energúmenos entrevistados (adolescentes a precisar de estaladas) o 'sexo forçado' não signifique 'violação'. Aí está uma não-definição primorosa. Na 'relação amorosa' desta rapaziada cabem 'sovas, murros e pontapés'. Não fico espantado ao ler os números nem as descrições. Tratados como 'bons selvagens' pela escola e pelo Instituto da Juventude, eles fazem tudo para merecer o atributo. O amor pode ser cruel, mas há coisas que escapam ao entendimento.

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A coluna de Ancelmo Góis, no jornal 'O Globo' de ontem informa que o grupo LeYa "namora o grupo editorial brasileiro Record", depois de ter tentado, sem sucesso, a aquisição da Companhia das Letras. A Record desmente para já.

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FRASES

"Como pode Mário Soares ser hoje o maior avalista deste demagogo incontinente [H. Chávez]?" Pedro Correia, no blogue Corta-Fitas.

"Temos tido uma cooperação institucional impecável com o Sr. Presidente da República." Ministro Pedro Silva Pereira, ontem no CM.

Blog # 131

Há um certo pudor, compreende-se, em abordar o "caso Maddie". Para além das nebulosas jurídicas e policiais há, curiosamente, questões políticas. Passado todo este tempo sobre o início da investigação o caso continua envolto em discussões quase pueris e em obstáculos processuais diversos. Para lá do essencial – que é a resolução do "caso", ou seja, o conhecimento da verdade – há uma pergunta que todos os cidadãos devem colocar: podem confiar na polícia e nos magistrados do MP? Estarão ambos a salvo de pressões políticas e de influências tais que os impeçam de concluir um caso como este? A matéria é grave e as acusações andam no ar. E, sinceramente, nenhum segredo de justiça pode impedir que os cidadãos façam as perguntas que têm a fazer. A sua segurança está em jogo.

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Romances para a bagagem de Verão: 'Nada', da catalã Carmen Laforet (1921-2004), uma história com a Barcelona franquista como cenário e uma personagem fantástica: Andrea. O livro foi publicado em 1945 – uma jóia. Edição Cavalo de Ferro.

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FRASES

"A única coisa que podem estar a fazer lá dentro é orgias ou filmes pornográficos." Testemunha de um sequestro, ontem no CM.

"Ingrid só devia ser libertada em estado de coma. Assim, «de boa saúde», é um logro." Tomás Vasques, no blogue Hoje Há Conquilhas.

Blog # 130

Os europeus, que construíram a figura do 'bom selvagem', edificaram também a estátua ao 'bom revolucionário'. De um a outro, a distância não é muita – até pelo facto de ambos se situarem na América Latina. Ao bom revolucionário estava entregue a tarefa de fazer as revoluções que a esquerda tinha preguiça de fazer na Europa. As FARC eram um desses redutos da revolução latino-americana, paga à base de droga, extorsões e raptos – como os de Ingrid Betancourt, agora libertada pelo exército colombiano, ao fim de seis anos de cativeiro e sem a colaboração do pateta venezuelano. Eu recomendaria aos apoiantes das FARC umas férias no paraíso revolucionário que manteve Ingrid prisioneira. Eles têm direito a estar próximos dos seus revolucionários e a apreciar os seus métodos.

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Não apenas as canções, mas tudo o resto: 'Leonard Cohen, o Eterno Regresso', de Marc Hendrickx (Guerra e Paz) é um bom motivo para nos comovermos com uma aproximação à sua biografia de grande poeta. E música em fundo, como sempre.

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FRASES

"Já é insuportável o 'vomitar do caviar', também ele pago a crédito." Paula Teixeira da Cruz, ontem no CM.

"Grande parte da identidade duma pessoa que não vê televisão vem do facto de não ver televisão." Alexandre Soares Silva no seu blog.

Blog # 129

Ao contrário de muitos 'eventos' relacionados com a literatura e a edição, a Festa Literária Internacional de Parati (FLIP), no Brasil, que ontem abriu as suas portas com um debate sobre Machado de Assis, não está confinada ao pequeno meio dos literatos, académicos ou profissionais. Está presente o 'star system' local, um misto de 'beautiful people' que leu o último romance da moda e das 'elites' que aparecem em público. Eles vêm para apreciar o espectáculo, claro, mas também para ver os seus pares e serem vistos no meio de celebridades como Cees Noteboom, Zoe Heller ou Alessandro Baricco. Em Portugal, as 'elites' raramente falam de livros, e não sabem sequer pronunciar o nome dos autores da moda. Nem isso. O 'star system' português é muito pouco alfabetizado, de facto.

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O novo romance do brasileiro Paulo Coelho será publicado em Setembro e em simultâneo numa série de países. Em Portugal, como de costume, o livro sairá com a chancela da Pergaminho. Coelho já vendeu mais de 100 milhões de exemplares.

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FRASES

"A falta de respeito pelos juízes e a degradação da sua imagem foram alimentadas por este Governo." Rui Rangel, ontem no CM.

"Ela não tem um 'tipo' de homem, tem um 'género' de homem: prefere-os do género 'masculino'." Pedro Mexia no blogue Estado Civil

Blog # 128

A justiça não pode ser feita com preconceitos. Um deles, o mais grave, é o da admissão prévia da culpabilidade dos suspeitos, ainda nem sequer acusados – uma espécie moderna de ressentimento e de maldade. Os casos Apito Dourado e Maddie são exemplos disso e de como a opinião pública pode perder a confiança nas investigações e na própria justiça. Chegámos a um impasse e regressámos ao ponto em que 'as coisas vão dar em nada'. Por mais que o Ministério Público recorra automaticamente (como manda o PGR) fica a desconfiança sobre os métodos, as razões e os orçamentos gastos numa investigação que pode acabar afogada em desprestígio. A justiça tem de ser mais cuidadosa com o foguetório que lhe gasta os fundos, lhe malbarata a credibilidade e a associa a gente muito duvidosa.

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Hoje começa o Festival de Parati (FLIP), no Brasil. Autores, editores e muitos leitores invadem a cidade para falar e ouvir. De Portugal, J. E. Agualusa, J. L. Peixoto, Inês Pedrosa, Patrícia Reis e eu próprio – os livros não acabam.

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FRASES

"Certas pessoas do Ministério Público acusam com uma leviandade e negligência terríveis." Vasco Lobo Xavier, no blogue Mar Salgado.

"[Rebelo de Sousa] não tem os mesmos padrões de rigor e honestidade intelectual que eu." Ministro Jaime Silva, ontem no CM

Blog # 127

A geografia é uma ciência reaccionária. Não há nada a fazer contra os Elementos: o clima, a orografia, os declives, os acidentes do terreno. Lisboa é o palco de uma dessas revoltas contra o destino, quando se murmuram projectos para atravessar a cidade com ciclovias civilizadas e belíssimas – como se se tratasse de Amesterdão ou de Dublin. Entre outras coisas, as ciclovias não apenas mudarão a face da cidade como, também, terão de mudar o país e a sua orografia. Não estou a ver um cidadão de Campo de Ourique a pedalar diariamente para o seu emprego na Graça ou em Entrecampos, subindo e descendo encostas. Tal como os automobilistas do Marão, travados pela inclemência das montanhas, os ciclistas de Lisboa têm de pedalar contra o destino. Nada como publicar um decreto.

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A não perder o novo livro de António Osório, 'Vozes Íntimas' (Assírio & Alvim), retratos, pequenos textos, variações sobre a literatura, tudo aquilo que um grande poeta português pode escrever para além da poesia – que é crime não conhecer.

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FRASES

"Ela ficou despida da cintura para cima porque o segurança lhe rasgou o vestido quando a agrediu." Testemunha de agressão numa discoteca, ontem no CM

"A Espanha ganhou porque jogou com um guarda-redes na baliza e porque não tinha Scolari." Tomás Vasques no blogue Hoje há Conquilhas