março 27, 2010

Para o futuro

A decisão do Conselho de Justiça da FPF não vem repor nenhuma justiça no «caso do túnel da Luz» (porque a grave injustiça é irreparável), embora confirme a pantomineirice em que se transformou o arremedo de sistema jurídico em que agonizam os donos da bola. O responsável pelo primeiro castigo aplicado a Hulk e Sapunaru não pode, de nenhuma forma, compensar os prejuízos causados aos jogadores e ao clube – fica-lhe, simplesmente, colado o rótulo mais conveniente e que não é lisonjeiro.

Já a demissão de Hermínio Loureiro de presidente da Liga me parece mais suspeita e, declaradamente, um tiro no próprio pé – que o próprio Hermínio Loureiro, não merecia ter desferido. Em primeiro lugar, devia existir uma separação clara entre os objectivos da presidência da Liga e as decisões tomadas por um órgão como o CD, que devia ser (mas não é) independente. Ao demitir-se na sequência de uma decisão contrária ao CD da Liga, o presidente reconhece que um dos seus objectivos seria a aplicação de um castigo ao FC Porto e aos jogadores do FC Porto, mesmo se aquele se revelasse inadequado. Ou seja, confirma por este meio que uma desautorização a Ricardo Costa e ao CD é uma desautorização à sua presidência. Hermínio Loureiro, que é um político, devia ter sabido reconhecer a armadilha.

Evidentemente que o FC Porto foi prejudicado – e gravemente prejudicado. O que não serve para justificar uma temporada anódina e desportivamente fraca. Enfraquecido por processos jurídicos duvidosos e por manobras escandalosas (ou, para ouvidos delicados, no mínimo, «suspeitas»), o FC Porto devia ter-se precavido devidamente no plano estritamente desportivo, à semelhança do que aconteceu na época passada. Infelizmente, isso não aconteceu – pelo que têm inteira razão os que falam do «fim de um ciclo». Isso tem de ser encarado sem drama. Ao fim de quatro anos de invencibilidade, é preciso reorganizar as tropas, desenhar uma estratégia e traçar novos objectivos sobre o mapa do futebol. Nada mais natural.

in A Bola - 27 Março 2010

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