janeiro 29, 2011

É o hábito

O problema de certos clubes é que, além de sofrerem de gigantismo físico, o que já lhes tolhe os movimentos, estão quase sempre à beira do precipício psicológico e da hipertensão. A eliminatória da Taça de Portugal em Vila do Conde, por exemplo, teve aquela avalanche de quatro penaltis assinaladas pelo árbitro João “pode ser” Ferreira – uma contribuição generosa para as estatísticas que, no final da época, hão-de ser apenas coincidências. À mesma hora em que o Rio Ave era passado na chapa, o FC Porto voltava aos níveis adequados com um jogo de grande nível com o Nacional e mantinha a coluna das derrotas intacta na competição principal, castigando – como devia – os madeirenses.

Não bastou. Não bastará. Os mesmos que, na imprensa, decretaram haver um campeão ainda em Julho, voltaram agora aos advérbios da altura; não lhes basta duvidar de cada jornada vitoriosa do FC Porto no relvado – também querem que as primeiras páginas colaborem na campanha. Tingir as manchetes de vermelho parece que se tornou um remédio para períodos críticos. À medida que nos aproximamos do último tércio, sobe de tom a sanfona, empurrada pela chantagem e pelos duplos critérios. Cá vos esperamos.

Por falar em duplos critérios, também é apreciável que nessas primeiras páginas tingidas de vermelho não se repitam até à exaustão as imagens de um treinador que, depois de uma agressão, nem mereceu que o árbitro tomasse nota do deslize no relatório. É tudo rapaziada, encontrões aqui, abraços ali. Ainda se fosse uma emboscada no túnel servida pelo YouTube caseiro, ou um processo jurídico preso por arames – mas não; foi à vista de todos. André Villas-Boas foi expulso duas vezes esta época porque os relatórios mencionaram excessos – e cumpriu castigo, além de ouvir pregação moral dos hipócritas da ordem. Na época passada, nem processo foi necessário para tentarem o extermínio de Hulk. Já neste caso do caloroso abraço em pleno relvado, que diabo, é tudo entre rapazes. É o hábito.

in A Bola - 29 Janeiro 2011

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