maio 21, 2011

Reaprender

A história de uma época desportiva não se faz apenas de vitórias – mas é necessário celebrá-las e relembrar que elas são o produto de um trabalho continuado e consistente, de uma gestão que demora anos a estabelecer-se com solidez, e de um espírito de grupo que tanto deve recusar a arrogância como a timidez. De alguma maneira, foi isso que aconteceu com o FC Porto ao longo desta época que ainda não terminou; no próximo domingo, no Jamor, realiza-se a final da Taça entre o Vitória de Guimarães e o FC Porto – também esta partida é o resultado de um esforço notável de concentração e de técnica que tornou possível ultrapassar as circunstâncias adversas em que se realizava a segunda mão das meias-finais da competição.

Mas isso será domingo – um jogo importante para consagrar uma prova igualmente importante. Ontem e anteontem foram dias de justa celebração e, também, de prévio balanço: vão já alguns meses desde a promessa de um FC Porto destinado a ultrapassar barreiras e recordes anteriores. A equipa comportou-se, necessariamente, com altos e baixos, transportando para esse balanço momentos fantásticos e momentos menos bons. Uns e outros fazem parte de uma carreira histórica que, além de ficar marcada pelos títulos até agora arrecadados (e as suas circunstâncias), revelou a enorme capacidade de o FC Porto encontrar os caminhos da idade madura e moderna. Não se trata, aqui, de insistir nas vitórias – caminho que pode deitar a perder a sensatez que faz os campeões.

Vencer não é tudo, embora seja a parte mais saborosa. Outro dia, o colunista Simon Heffer, no “The Daily Telegraph”, dava conta da alegria que sente todos os anos ao receber o seu almanaque do críquete. Este ano notou que o almanaque não dava tanto destaque a determinado jogador; e explicava: “Porque vencer não é tudo. Há uma dimensão ética que faz da vitória uma ocasião feliz, um cavalheirismo que não pode esquecer-se.” Este ano, para vencer, o FC Porto soube reaprendê-lo.

in A Bola - 21 Maio 2011

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