junho 18, 2011

Nuno Gomes

Em Março passado, na sequência do Portimonense-Benfica, escrevi o seguinte neste jornal: “Nuno Gomes é um jogador desprezado. São vários os factores que levam ao seu afastamento. Pessoalmente, gosto desses jogadores desprezados, empurrados para o banco – não por serem maus, claramente maus, mas ‘por causa da idade’. Não há nada mais cretino do que invocar a idade de um futebolista para o relegar para o balneário. Ele transporta consigo a experiência, a memória, a disponibilidade, e a arte que o fez ser indispensável. O golo de Nuno Gomes contra o Portimonense reabilita esses jogadores injustamente afastados; fica como um símbolo de permanência do que é bom no futebol.”

Gostava de insistir no assunto – e longe de qualquer quezília contra o Benfica. Nuno Gomes é um símbolo do Benfica e, portanto, está longe de ser um dos ícones da minha vida. Acontece que o que sucedeu com Nuno Gomes (a sua dispensa ao fim de uma carreira dedicada ao seu clube, mesmo com uma interrupção para jogar no estrangeiro) também sucedeu com outros jogadores de outros clubes e, inclusive, do meu. Defendo que há um módico de gratidão a dispensar aos símbolos dos clubes – de contrário, nem os clubes merecem a alegria dos adeptos nem os favores dos seus emblemas. Há jogadores que vão e vêm, há jogadores que trepam e desaparecem, que estão apenas presos a um contrato vantajoso; e há jogadores que fazem parte, desde o início das suas carreiras, à galeria dos retratos do clube. Nuno Gomes veio do Boavista; mas o modo como se transformou em elemento principal do Benfica não fazia prever este afastamento tão envergonhado e silencioso. Se a questão é “meramente técnica” é preciso explicar por que razão Nuno entrava em campo e marcava; se a questão é da idade, então é melhor darmo-nos conta de que o futebol vai mal. Eu gosto de jogadores “de uma certa idade”, gosto de jogadores que transportam uma boa parte da memória do clube. O despedimento de Nuno Gomes é um atentado à memória do futebol.

in A Bola - 18 Junho 2011

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